Candombe do Açude 2023

A comunidade do Açude, localizada na Serra do Cipó, abriga uma das manifestações religiosas e musicais mais antigas e autênticas do estado.

Data do evento: 09 de setembro de 2023

Em novembro de 2004, o presidente Lula reconheceu a importância desse grupo de moradores, descendentes de escravos, premiando-os com a medalha da Ordem do Mérito Cultural.

Essa comunidade, conhecida como Açude, mantém viva até os dias de hoje uma tradição sagrada de seus ancestrais: o candombe. Esse ritual, marcado pelo ritmo dos tambores chamados tambus, esculpidos em madeira pelos escravos, é preservado com orgulho e devoção pelos membros da comunidade.

Os tambores, que têm mais de 200 anos e são feitos de troncos de saboeira, árvore típica do cerrado mineiro, são o coração pulsante do candombe do Povo do Açude. Esses instrumentos únicos, juntamente com uma caixa batuqueira, são os únicos permitidos nas celebrações.

  O candombe, uma das oito guardas do congado, é a mais primitiva manifestação folclórica de Minas Gerais e tem suas raízes na cultura africana. O Povo do Açude mantém essa tradição há gerações, sem abrir mão de seus rituais e vestimentas simples. Para eles, o uniforme do candombe é o respeito mútuo e a devoção a Nossa Senhora do Rosário, a rainha que guia suas celebrações.

A festa do candombe não possui uma data fixa, mas ocorre sempre na segunda noite de setembro. O ritual começa com uma reza em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, seguida por uma procissão até o terreiro onde os tambores repousam ao lado de uma fogueira. Depois de afinados, os tambores são tocados por três homens da comunidade, e a festa começa, estendendo-se pela madrugada.

Durante a celebração, os candombeiros cantam versos curtos, desafiando uns aos outros. Os temas variam desde a louvação religiosa até histórias cotidianas e amores. A roda de participantes responde aos versos tradicionais, entoando-os em coro. O corpo dos candombeiros gira freneticamente, como se estivessem em transe, e qualquer pessoa, de qualquer idade, é bem-vinda para participar.

A tradição do candombe, porém, enfrentou desafios ao longo do tempo. Houve um período em que os cantos eram realizados em latim e em dialetos africanos, mas essas práticas se perderam ao longo dos anos. Florisbela Aparecida dos Santos, está sempre empenhada em preservar e difundir o legado do candombe. Graças à união e solidariedade da Comunidade do Açude, essa manifestação ancestral continua a ser celebrada e apreciada por centenas de pessoas que vêm de diversas regiões de Minas Gerais, incluindo jovens estudantes de Belo Horizonte.

Hoje, o resgate da cultura é um instrumento fundamental para garantir o respeito e a valorização desse povo. A nova geração do Açude, representada por Florisbela, está determinada a compartilhar o legado de seus ancestrais e acabar com os preconceitos e estereótipos que já enfrentaram no passado. O candombe é uma expressão de identidade, resistência e alegria, e sua preservação é uma fonte de orgulho para a Comunidade do Açude.

A RAINHA DOS TAMBORES 

Nossa Senhora do Rosário, a Rainha do Sincretismo Religioso, mostrou preferência pelo batuque africano em detrimento da missa portuguesa.

O congado, desde suas origens, está intrinsecamente ligado à devoção aos santos católicos, como Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e São Benedito. Em Minas Gerais, por exemplo, há registros de celebrações dedicadas a Nossa Senhora do Rosário desde 1705.

Esses santos eram cultuados simultaneamente com a nomeação de "juízes" e "reis do Congo" pelos próprios escravos, que atuavam como intermediários entre os senhores de engenho. As celebrações ocorriam nos mesmos dias em que os brancos comemoravam as cerimônias católicas, sendo uma forma dissimulada de adorar seus orixás ao associá-los aos santos portugueses.

No Brasil, Nossa Senhora do Rosário é considerada a rainha desse sincretismo religioso e também do candombe, a manifestação mais importante dentro do congado.

Uma lenda africana relata que a imagem da santa surgiu pela primeira vez no mar, próximo a uma praia. Os colonizadores portugueses tentaram retirá-la das águas, mas sem sucesso

Embarcações de grande porte foram usadas para o resgate, missas foram rezadas, porém a santa não se movia. Então, os escravos esculpiram três tambores a partir de troncos de árvores e os colocaram em um humilde oratório de sapê, à beira da praia. Com muita fé, cantaram, dançaram e rezaram, atraindo a santa.

Nesse momento, os portugueses tomaram a santa dos negros e a glorificaram em um altar de uma capela toda em ouro, onde celebraram missas. No dia seguinte, a santa havia retornado ao mar. Os negros reconstruíram seu modesto oratório e voltaram a tocar seus tambores. E mais uma vez, a santa voltou à terra, agora para ficar.

Desde então, os três tambores de madeira e couro, conhecidos como tambus do candombe, são considerados sagrados para os negros devotos de Nossa Senhora do Rosário.

Candombe do Açude: Arte cultura e Fé

Documentário dirigido por André Braga e Cardes Amâncio. 

Ouça as músicas do Candombe do Açude:

Informações embasadas no site Receita de Samba