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22 de maio de 2023 – Primeira viagem ao interior da Bahia: Lençóis, na Chapada Diamantina
Tudo começou com a paixão pelos trekkings da Serra do Cipó. Então, por que não encarar a Travessia do Vale do Pati? Considerado o trekking mais clássico do Brasil e um dos mais lindos do mundo, esse desafio já estava nos meus planos há algum tempo.
Os últimos três anos não foram fáceis para minha saúde mental, mas tenho buscado cada vez mais fazer o que gosto. Entre essas descobertas, viajar sozinho tem se tornado uma experiência cada vez mais especial.
Essa foi minha primeira trilha de longa distância fora de Minas Gerais. Como fui de avião, precisei ser econômico com a bagagem: levei uma mochila compacta, apenas o essencial em roupas e itens básicos de primeiros socorros. Não sabia exatamente o que esperar, e a rigidez dos aeroportos me deixou receoso de levar mais coisas.
No guichê de embarque, vi outros turistas com mochilas enormes e até bicicletas para despachar. Me senti um pouco despreparado kkkk, mas a aventura já havia começado.
O voo foi tranquilo. Pousamos no aeroporto de Lençóis em um ATR 75. Como já havia pesquisado antes, sabia que o aeroporto fica a cerca de 15 km da cidade de Lençóis. Sem uma reserva de transporte, tinha duas opções: ir para Lençóis ou direto para Palmeiras, ponto de partida para a travessia.
Logo ao desembarcar, fui abordado por vários taxistas oferecendo o trajeto por valores entre R$ 400,00 e R$ 450,00. Tentei encontrar mais pessoas para dividir o custo, mas o taxista insistiu que o valor era por pessoa, o que achei um absurdo. Foi aí que encontrei Edinho de Guiné, um motorista gente boa e meio maluco, que me ofereceu a corrida por R$ 60,00 até Palmeiras. Preço justo!
Edinho apareceu na hora certa e ainda me deu várias dicas que mudaram parte do meu roteiro. Em Palmeiras, consegui uma pousada e uma van para seguir até Guiné, de onde começaria a trilha.
Tudo parecia sob controle até a van virar um Uno (sim, um Fiat Uno!). O importante era chegar. No carro, estavam também duas turistas de uma agência que reclamavam muito do transporte. Foi aí que o Uno quebrou no meio da estrada, sem sinal de celular. O motorista saiu para buscar ajuda enquanto enfrentávamos o sol do meio-dia.
Quando o carro de resgate chegou, consegui uma vaga junto com as turistas e finalmente cheguei a Guiné. O motorista sugeriu que eu iniciasse a trilha no dia seguinte, mas como já havia pago a hospedagem no Vale do Pati e não tinha muito dinheiro sobrando, resolvi arriscar e comecei a trilha às 13h50.
Estava apressado, sem ter comprado comida extra, e a mochila já incomodava. Subi a primeira montanha rápido demais, sem parar para contemplar a paisagem ou planejar um ponto de descanso. Foi então que parei, respirei e pensei: "Pode dar ruim."
Precisava respeitar a montanha. Analisei novamente o roteiro, identifiquei pontos de parada e segui em frente, agora mais concentrado — e com um certo medo. Afinal, estava sozinho em um lugar onde 90% das pessoas contratam guias.
Por volta das 17h, cheguei ao abrigo. Me perdi algumas vezes, já que a travessia, apesar de relativamente curta, é desafiadora para quem não conhece. O interior do Vale é úmido, com muito barro, e eu estava nervoso, mas feliz por ter chegado.
Às 18h, começaram a chegar os grupos. Eu era o único sem guia, o que me deixou um pouco deslocado. Observei o comportamento das outras pessoas, em sua maioria paulistas, que nunca haviam se exposto à natureza dessa forma. Para muitos, mesmo com guias, aquela era a maior aventura da vida. Alguns comentaram que quase desmaiaram em trechos que, para mim, passaram despercebidos.
O jantar foi simplesmente incrível! Comi muito, mas muito mesmo. No dia seguinte, enfrentaria outra travessia: 29 km até o Vale do Capão, caminhando pela crista da montanha.
Apesar de ter dormido mal — fiquei até tarde conversando com outros turistas, o que foi muito bom — acordei com um café da manhã espetacular me esperando. Me alimentei bem e parti por volta das 7h30.
Dessa vez, já tinha mais noção de onde estava e como organizar melhor o trajeto. Fiz o primeiro ataque pela Igrejinha de forma leve, planejando o tempo necessário para chegar e o ritmo que precisava manter.
A travessia foi incrível: paisagens, momentos de contemplação e tudo sob controle. Cheguei ao Vale do Capão por volta das 14h e fiquei no primeiro camping que encontrei, o Camping da Angélica, próximo à cachoeira que leva o mesmo nome.
Curiosamente, visitar o Capão não estava nos meus planos iniciais, mas foi o lugar onde mais fiquei. Fiz muitas conexões por lá e explorei várias cachoeiras, incluindo a famosa Cachoeira da Fumaça, a maior queda d’água do Brasil.
Fui embora com aquela sensação de quero voltar. E, quando voltar, quero fazer essa experiência com mais calma — e, se possível, com um guia. Contratar um guia em destinos muito turísticos pode não ser para qualquer um, mas, no final, a segurança e as histórias que você vive fazem tudo valer a pena.
Voltei em 13 de maio de 2024, mas dessa vez a experiência foi diferente. Não deu muito certo. Continua…