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A Serra do Cipó, localizada no coração de Minas Gerais, é uma região marcada por sua complexidade geográfica, riqueza histórica e diversidade cultural. Ao longo dos séculos, esse território se moldou pelas trilhas dos povos originários, das rotas coloniais e pelas transformações recentes ligadas ao turismo e à conservação ambiental.
Historicamente, a Serra do Cipó já foi conhecida por vários nomes. Em mapas antigos e documentos de naturalistas, aparecia como "Serra da Vacaria", "Serra da Lapa", "Serra das Pedras Brancas" e "Serra do Bocaina". O nome atual, “Cipó”, popularizou-se com o tempo, especialmente após o desenvolvimento turístico na região de Cardeal Mota, distrito de Santana do Riacho.
No passado, a Serra do Cipó era conhecida como Serra da Vacaria, denominação que remonta aos séculos XVIII e XIX, período em que a região era um importante corredor de passagem entre o sertão mineiro e as cidades do ouro, como Serro e Diamantina. Os caminhos tropeiros cruzavam vales, campos rupestres e rios, conectando freguesias, lavras e povoados.
Com o tempo, o nome "Cipó" foi se tornando dominante, muito possivelmente em referência ao Rio Cipó, que serpenteia entre as montanhas. O nome do rio, por sua vez, pode estar relacionado à grande presença de cipós (lianas) e outras espécies vegetais típicas da mata atlântica e do cerrado. Assim, “Serra do Cipó” passou a identificar não só a cordilheira, mas todo o seu entorno, incluindo comunidades tradicionais e atrativos naturais emblemáticos.
A Serra do Cipó se firmou historicamente como uma rota de ligação entre os vales dos rios São Francisco e Doce, conectando antigas vilas mineradoras, como Diamantina e Ouro Preto. Durante o ciclo do ouro, trilhas como as da Estrada Real cortavam suas montanhas, movimentando riquezas, ideias e práticas culturais.
Com o declínio da mineração, a região passou por um longo período de estagnação econômica, sustentando-se pela agropecuária e pequenas atividades rurais. Esse cenário começou a mudar com o avanço da urbanização da RMBH (Região Metropolitana de Belo Horizonte) e, principalmente, com a criação do Parque Nacional da Serra do Cipó em 1984.
A Serra do Cipó abriga registros arqueológicos valiosos, como pinturas rupestres, sítios de ocupação antiga e locais de enterramento, especialmente em abrigos rochosos como a Lapa da Sucupira e a Lapa do Veado. Tais sítios revelam a presença de grupos humanos há milênios, e reforçam a importância da região como patrimônio cultural e científico. As pinturas da chamada Tradição Planalto trazem representações de figuras humanas, animais e grafismos geométricos, conectando o presente ao passado ancestral do Espinhaço.
Antes da chegada do turismo, o modo de vida local era marcado por práticas agroextrativistas, criação de gado, produção de farinha e uso de plantas medicinais. Muitas comunidades viviam de roça, garimpo artesanal e da extração de sempre-vivas, atividade que até hoje resiste, com técnicas passadas de geração em geração.
Na parte baixa da serra, destaca-se o Candombe do Açude, uma das manifestações afro-mineiras mais antigas do estado. Mantido por descendentes de escravizados, o candombe é celebrado com tambores de saboeiro centenários, danças e cantos em devoção a Nossa Senhora do Rosário, expressando resistência cultural e religiosidade popular.
O turismo na Serra do Cipó começou a se intensificar nas últimas décadas, inicialmente em Cardeal Mota e depois se espalhando para localidades como Lapinha da Serra, Serra dos Alves, Cabeça de Boi e Fechados. A paisagem de campos rupestres, cachoeiras e cânions passou a atrair visitantes em busca de aventura, descanso e natureza.
Esse processo trouxe novas dinâmicas socioeconômicas e também desafios: pressão imobiliária, sobrecarga em atrativos naturais, conflitos entre turismo e modos de vida tradicionais.
Foi apenas a partir da segunda metade do século XX que a Serra do Cipó começou a atrair olhares voltados ao lazer e à contemplação. O renomado paisagista Burle Marx foi um dos primeiros a reconhecer sua importância ecológica, chamando-a de “Jardim do Brasil” por sua rica biodiversidade.
Nos anos 1980, a criação do Parque Nacional da Serra do Cipó consolidou a região como área de conservação federal, com o objetivo de proteger ecossistemas únicos como os campos rupestres, habitat de espécies endêmicas e ameaçadas.
Hoje, a Serra do Cipó é um mosaico que se espalha por pelo menos 13 cidades que formam sua área de influência, como Santana do Riacho, Jaboticatubas, Nova União, Morro do Pilar, Itambé do Mato Dentro, Conceição do Mato Dentro, Congonhas do Norte, entre outras. onde o passado convive com o presente: cachoeiras, trilhas, pinturas rupestres, saberes populares, festas tradicionais e formas contemporâneas de turismo e preservação. É um território que pulsa história e natureza em sintonia, e que convida a todos a conhecer, respeitar e vivenciar essa herança viva